Isto me afasta da insanidade total e das palavras ríspidas do asfalto lá fora.
Me fere a agressividade do mundo, a burrice, a feiúra. As coisas são feias lá fora, há desigualdade, há violência.
Quero me proteger, e às pessoas que amo e pelas quais nutro carinho. Gostaria de mudar essas coisas, e tornar tudo bonito, para novamente ser destruído, corrompido. É essa a nossa natureza, ferir, corromper, agredir em nome do progresso do concreto.
Quero porém, viver e preencher meu nariz com pólem de flores sorridentes e admirar a cor do céu quando está limpo. Limpo dessa sujeira chamada humanidade, que corrói sua essência como o ácido corrói a solidez do mármore das estátuas apáticas.
Quero ser feliz lá fora também. Quero poder sentir o frio do inverno e o calor dos abraços afetuosos e o carinho sincero das pessoas ao meu redor. Mas tudo o que posso é ficar aqui dentro, esperando que o noticiário traga enfim boas notícias. Não posso me permitir apenas isso. Esperanças se vão, migram para longe como os pássaros de desenho animado quando chega a hora da hibernação, também dos ursos comedores de mel.
E tudo se resume a naturezas mortas, bichos de zoológico e almas enjauladas.
Quero ver as florestas e a vida além das fotografias turísticas. E que isso seja possível não apenas àqueles que podem pagar pela extorção do lazer. E que meu chuveiro esquente no inverno. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário