Quando chega a droga do verão, gostaria de ir pra Finlândia e só voltar quando for inverno por aqui.
Se bem que, pra que iria voltar, não é mesmo?
Gostaria de ir embora desta merda definitivamente. Nem que vá pra uma outra merda, mas que pelo menos não faça calor lá.
Estou meio chateada porque não possuo dinheiro nem emprego, nem sou pós graduada em Harvard. Na verdade, nem graduada sou, porque não irei fazer faculdades Tabajara jamais. Eu não aceito simplesmente que um diploma qualquer valha mais que capacidade, talento e esforço e, até prefiro continuar desempregada. O chato é que não posso, por exemplo, ir tomar uma coca no Rockets.
As pessoas se enfiam nessas faculdades vagabundas, eu não tenho coragem. Agora tem faculdade particular em cada esquina. Você vê na TV anúncios esbanjando uma pseudo-inteligência e jovialidade como chamarizes para um futuro de sucesso, desde que vá lá fazer uma redação ou análise de currículo. Redação? E desde quando esse povo que faz essas faculdades sabe escrever? Não sabem escrever, tampouco serão bons profissionais, mesmo cursando tais instituições.
Mas eles terão um diploma Tabajara pra pendurar em suas paredes de pau-a-pique e terão empregos nas Casas Bahia, porque agora até pra empacotar compras você precisa de nível superior.
Mas que adianta, se o ensino superior dessas particulares caça-níquel não tem nível algum?
Enfim, eu terei que fazer uma faculdade também.
Afinal, até pra catalogar livros na Livraria Cultura, precisa-se cursar letras ou jornalismo.
Como se digitar e ser alfabetizada não fosse o bastante pra tão explêndido cargo.
O que o nível superior têm a acrescentar a um cidadão que vai apenas catalogar livros?
Ninguém vai à faculdade de letras pra aprender português. Isso deveria ser aprendido nas escolas, no ensino fundamental. Aperfeiçoar, sim. Mas aprender, nunca. Ou você sabe, ou não sabe e jamais conseguirá fazer isso direito.
É, estou irritada mesmo.
Pra melhorar minha vida, meu pai é um mala sem alça na chuva de granizo e sem rodas.
E sou obrigada a ouvir as pérolas de sanidade que ele faz questão de pronunciar.
Tenho às vezes vontade de não ouvir mais. Ou de morrer logo, só pra não ter que ouvir tanta merda.
Eu gostaria que minha vida fosse diferente, claro que só eu posso mudá-la e tenho em minhas mãos a capacidade de efetuar minhas escolhas. Só queria que fosse menos árduo o percurso. Às vezes não vejo a menor necessidade em tanto sofrimento. Às vezes o sofrimento ajuda a termos uma visão do mundo mais cética, mais sóbria. Mas que adianta tudo isso, se no final, apenas vamos perdendo nossas esperanças e nos encapsulamos em nossas carapaças de proteção?
Isso é progresso ou regresso?
Devemos ser sempre líderes, agressivos na vida para que possamos ter certo sucesso. Sempre tomar decisões e acertar na maior parte das vezes. Ou sermos comandados infinitamente pelos líderes, que não te pouparão. Você não passa de mais um. Mais um entre tantos, que podem fazer a mesma merda.
E se você consegue cumprir bem sua função, o considerarão inteligente. Não que você tenha mesmo inteligência acima dessa média que consegue fazer as coisas como manda o figurino. Você apenas cumpre o que deve ser cumprido. Não quer dizer que tenha a genialidade de quem pode criar, inventar, revolucionar. É apenas "inteligente".
Não acho que isso seja ser inteligente.
Antigamente eu agradecia quando me diziam que era inteligente.
Hoje eu já me pergunto se devo rir na cara de quem me diz isso, ou se devo apenas ser educada e agradecer, pois não vejo fundamentos em tal afirmação. O que vocês conhecem de mim que podem utilizar como critério para tal afirmação? Nada, ou muito pouco. Não é baseando-se em pequenas demonstrações de capacidade de fazer coisas simples (tão grandiosas para alguns) que podem dizer se sou ou não inteligente.
Há certas coisas que qualquer pessoa dotada de cérebro pode fazer.
Não quer dizer que repetir atividades comuns, com certa eficiência, seja sinônimo de inteligência, mesmo quando de forma criativa, inusitada.
Criatividade pode até ser uma forma de inteligência, mas não é inteligência pura e simples, como na concepção usada desta palavra.
Você não é inteligente, é apenas mais um.
O que você faz que possa ser considerado realmente algo inteligente, interessante?
Crianças são inteligentes. Nem sempre, claro.
Mas o que dizer sobre este nosso papel de repetir ciclos indefinidamente, sem se questionar se faz ou não sentido?
Ouço as pessoas dizendo: quero trabalhar na empresa dos meus sonhos, quero o homem ideal, vou comprar o carro da minha vida. Isso é ser inteligente? Trabalhar na empresa X? Considerar "homem ideal" uma pessoa que é apenas mais uma pessoa, como qualquer outra, apenas por seus atributos físicos ou certas preferências peculiares? Considerar algo fantástico o que é apenas um meio de transporte superfaturado pelas indústrias exploradoras automotivas nacionais, que geram lucros para suas matrizes em outros países?
Não.
Portanto, não me encham o saco. Não venham me dizer: "nossa, como você é inteligente!".
Não posso ser considerada assim se não faço nada além de me lamentar pelo que poderia ser e não sou, não fui e talvez não seja, mas gostaria de ser. Gostaria de ter poderes de controlar coisas que vão além do meu alcance.
E, quando meu pai grita na cozinha:
- Fabiana, faça o jantar!, apenas o considero um velho idiota, que pensa que pode mandar eu fazer coisas que não farei, porque simplesmente não sou sua empregada, e não sou comandada pela falta de respeito. Não há "por favor", "obrigado", "me desculpe" e outras coisas simples. E daí que ele tem diploma? Não passa de um louco. Fala sozinho o dia todo, acomodado em sua falta de iniciativa.
Eu tenho muito medo de acabar como a grande maioria, pensando apenas na nova escova Revo Styler no Polishop e no que pode ser feito no final de semana enquanto balançam seus rabos em roupas de lycra para atrair, conscientemente ou não, o macho da espécie que melhor se adapte a suas preferências superficiais. Não quero pensar no que será do último capítulo da novela, se a Maria Clara fica ou não fica com o Guma, porque são só imagens falsas de pessoas que não existem. Eles não exibem a verdade. E quem se interessa por ela afinal, não é mesmo?
Entorpecer as mentes de futilidades é mais confortável e nunca vamos encarar que somos apenas bundas gordas inúteis sentadas em cadeiras esperando a vida passar, supondo ter um conforto que não temos a longo prazo, porque somos acomodados e bestas.
E eu tenho que viver com um infeliz que não faz nem a compra do mês pra ter algo pra comer. O que fazer pra mudá-lo? Nada, eu só posso mudar a mim mesma. Doa ou não doa. Mas um dia a flexibilidade acaba e ficamos adultos padrão pensando no imposto de renda e empregos que não satisfazem nunca e maridos que não querem comer coisas saudáveis e vamos comprar vestidinhos caros no shopping para ter algum prazer simbólico.
E tudo isso pra dizer que não me sinto feliz por estar cercada de tanta merda, tanta gente besta, tanta desilusão.
Não podemos ser saudáveis, não podemos ser de fato inteligentes, não podemos ser pessoas de sucesso verdadeiro.
Ao mesmo tempo que, o mundo nos cobra exatamente isso, de uma forma ou de outra, geralmente só nas aparências.
Eu quero mudar o mundo, mas só posso mudar a mim mesma.
Queria não chorar ao ver o mundo com tanta desesperança e esse ceticismo que pra mim parece mais pessimismo.
Onde enfiei meu otimismo afinal? Posso ser inteligente por me deixar influenciar pelo que está fora de mim? As pequenas dores vão sempre se acumulando, juntam-se às grandes perdas e às insatisfações e um dia... BUMMM! Explode-se e o otimismo vai pelos ares. A vida passa a ser a mesma merda cinza de sempre, como era para seus pais e como será para seus filhos num futuro próximo (ou não).
Foda-se. Vou mudar por mim mesma. Se as coisas não podem ser 100% lá fora, gostaria que fossem pelo menos aqui dentro de mim. Gostaria muito, mas sei que nunca será assim. Desanima, não é mesmo?
É melhor eu ir comer alguma coisa e depois gritar ao subir na minha balança fútil.
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