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Ontem de madrugada passou um filme na Globo chamado Brazil: um cara trabalhando e vivendo numa sociedade extremamente burocrática onde nada pode ser feito sem o apropriado formulário corretamente preenchido, autenticado e carimbado em 5 vias, onde as elites sempre procuram a mais nova plástica, esticando seus rostos artificiais e tratando de amenidades. O chefe é o menos preparado para o trabalho, o cara que não sabe o que fazer nem quando o problema é simples.
Tubulações horrendas estão presentes em todos os lugares, simbolizando um vínculo sempre existente entre a sociedade e o governo e também a anti-estética tecnológica da modernização das metrópoles. O governo está sempre presente e controlando. O filme foi feito em 1985 e, apesar de ser uma crítica à incompetência governamental, com humor e sarcasmo, as coincidências com o nosso Brazil não parecem estar apenas no título do filme. Há muitos artigos a respeito, muitos comparando o teor com a superficialidade de Hollywood, aos EUA, aos países desenvolvidos, e por último citam o Brasil, como se fosse de fato o nome do filme algo aleatório e sem importância.
Eu imaginei que o Terry Gilliam, o diretor, resolveu escrever a história e criar o filme após alguma visita ao nosso querido país em época de ditadura militar e constatando que o inferno é aqui, e está nas repartições públicas, na falta de informação, no turismo de guichê onde um idiota de um departamento te envia para outro num eterno ping-pong em busca de um carimbo que falta, uma assinatura na quarta via, filas intermináveis e dando de cara na porta porque é horário de almoço. Seria sensato. Seria uma boa crítica, um bom tapa na cara se críticas favorecessem o amadurecimento das idéias numa sociedade que as reprime.
Porém, pelo que li a respeito, o autor se inspirou na música do Ary Barroso, Aquarela do Brasil (música que toca no filme diversas vezes, inclusive cantarolada pelo ator principal), num dia em que estave numa praia cinzenta e poeirenta da Inglaterra, um lugar lúgubre e distante das cores das nossas praias. Segundo ele, a música estranha tocou no rádio de um pescador proporcionando uma visão de sonho e utopia, de esperanças e possibilidades, fora da realidade. E assim ele nomeou o filme, porque o personagem principal adentra o filme já sonhando, apaixonado por uma mulher que nem ao menos sabe o nome. Claro, uma proletária, uma mulher cuja vida está longe da vida que sua mãe leva tentando parecer cada vez mais linda, rica e jovem.
Segundo a wikipedia o por quê do nome do filme é outra coisa, mas quem se importa? A carapuça serve por outros motivos também e não precisamos ir longe para perceber isso.
Entre terrorismos, torturas, uma crítica ferrenha ao homem tacanho da repartição e ao tratamento péssimo dado aos que não podem bater cartão nas lojas caras, restaurantes e cirurgiões plásticos da moda, a questão é que isso coincide com os anos amargos de ditadura militar aqui no Brasil, além de outros aspectos comuns com outros países nada tupiniquins. Nisso ele é brilhante.
Uma cagada do governo e ninguém sabe o que fazer para consertar, um joga pro outro departamento a responsabilidade, e uma viúva chora pelo marido inocente que morreu no lugar de um outro por causa da troca de uma única letra no preenchimento de um formulário. Parece com a vida real? Por que será?
Santa Claus: What would you like for Christmas?
Little girl on his lap: My own credit card.
HOHOHO!
Quem diria que eu veria um filme assim na madrugada na globo? E por que será que só passam filmes bons durante a madrugada (isso também vale pro SBT)?
Enfim...
(suspiros)
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