segunda-feira, março 31, 2003

Um crimpador da AMP está custando simplesmente, nada mais nada menos, que R$ 525,00. Uma bagatela, não?!
Pois é. Quando ficar milionária terei um desses. Só pelo prazer de crimpar um RJ45 com uma ferramenta possante como esta. Deve ser um tesão. Olha, até me arrepiei!

Fui hoje pra aula da Cisco e não fiz prova. A pauta do dia hoje na sala, em nossas conversas infanto-juvenis-púberes-pervertidas foi o de sempre: sexo com cocô, discos voadores, mais cocô, encanamentos entupidos e, o preferido do meu colega que bebe pinga de macumba: sexo em cemitério (que eu, particularmente, dispenso, além do resto). O Paganini não deu aula, o monitor com cara de inexpressivo pseudo-nerd não opinou e, ninguém conseguiu estudar porcaria nenhuma (e eu bem que tentei).

Após a aula, fui fazer as entrevistas para a matéria de jornalismo que meu grupo havia combinado. O tema é alfabetização de adultos. Como lá no CIEE há um programa de alfabetização, procurei a responsável pelo mesmo, para obter informações importantes para meu trabalho. Para isso, marquei horário com ela para hoje às 18 horas. Esperei mais de uma hora lá sentadinha e depois fui procurá-la. A dita cuja simplesmente não estava lá. Lindo, não?
Mas o bom é que, aproveitei para conversar com os alunos analfabetos. Cada um com sua história, cada um com seu jeito de expressar-se; mas, com algo em comum: o interesse no aprendizado, mesmo "tardio". Até mesmo velhinhos estão lá, com dificuldades, aprendendo o beabá. Cada um, motivado por algum fator, descobrindo o universo dessas letrinhas que, para nós são tão familiares...

Olha, realmente achei fantástico. O povo é, ao mesmo tempo igual e diferente de nós.
Iguais por sermos todos seres humanos, movidos por sentimentos, sentidos orgânicos, medos e sonhos.
Diferentes pelas oportunidades (ou a falta delas) que tivemos, diferentes pelo ambiente ao nosso redor, pelas histórias marcantes, tristes e tão humanas.

O primeiro ser com quem falei, era o típico matuto. Ao começar a conversar com ele, o mesmo se calou. Talvez por medo, não saber o que dizer, não sei. Ele murmurou o nome, ao perguntar-lhe, me senti embaraçada por não entender picas e não saber escrever o nome do coitado (ô nomezinho complicado, hein?!). E fiquei meio sem jeito de perguntar como se escrevia o nome dele, afinal, o cara é analfabeto (mesmo sabendo escrever o nome. Como pedir que soletrasse o nome, sendo que, a palavra "soletrar" já é uma navalha no pescoço intimando-lhe?). Depois deste primeiro contato, frustrado, achei melhor passar para o segundo candidato, na esperança de um diálogo mais produtivo.
José Milton. Achei que se chamava Josemilton, assim tudo junto, mas depois vi em seu caderno a verdadeira sintaxe. Cabra simpático. Da Bahia. O típico nordestino que não pode estudar na infância, tendo que trabalhar desde cedo. Não podia conciliar ambos e, mesmo tendo estudado num passado distante, não aprendeu muita coisa.
Estas pessoas, assim como milhares de outros de histórias tão parecidas, aprenderam muito mais com a experiência de vida, dura e cheia de cicatrizes.
Dessa vez, foi mais animador: o José ficou todo animado e começou a falar, respondendo tudo o que perguntava, não exatamente como esperava, mas de um modo muito verdadeiro, com certa emoção, sabe?
Contou-me o que achava de tudo aquilo e uma simples frase, ratificada por duas ou três vezes, sintetizou bem o que aquilo tudo significava para sua vida: "Acho ótimo!".

Lá, também conversei com a Edivalda, simpaticíssima mulher, e também entusiasta. Ambos me mostraram seus cadernos. Não com o capricho dos adesivinhos da nossa infância de canetas multicoloridas. Ditados e fragmentações silábicas desenhadas a lápis. E o capricho sóbrio de quem está lá, superando suas próprias expectativas, pela vontade de ser como nós, desta "elite" que pode ler e escrever como extensão de nós mesmos. Querem apenas recuperar o que o tempo não os permitiu. Apenas a chance de poder escrever o que sentem para um amigo distante, endereçar uma carta, e poder saber o que diz na capa das revistas, além daquelas fotos. É fantástico.

A dona Josefa, de aparência menos maltratada que os demais colegas de sala, visivelmente vêm de um ambiente diferente, onde a vida foi menos hostil. Mãe de 3 filhos já em fase de conclusão do ensino superior, o mais novo de 25 anos e o mais velho de 29, foi extremamente vitoriosa no perfeito diálogo que teve comigo nos breve minutos que antecediam sua aula. Muito diferente do primeiro aluno, o senhor de aparência indiferente, que não soube se comunicar.
Falou de sua felicidade em poder voltar a estudar e, no orgulho de poder ter dados aos filhos a oportunidade que não teve. Segundo suas palavras: "plantei uma árvore, cuidei e ela agora está dando frutos bons". Tamanha dedicação lhe rendeu um orgulho que, imagino que seja recíproco pelo olhar de seus filhos pois, pelo menos a meu ver, só o fato de estar lá, junto com os demais estudantes, é um atestado de sucesso que, nós todos, como cidadãos privilegiados, temos mais é que nos orgulhar.

É claro que o analfabetismo é triste. Porém, ver o pessoal vindo de longe, se esforçando pra aprender, pra fazer daquelas letras um sentido para suas vidas, é especialmente cativante. Depois de tudo isso, fiquei muito orgulhosa de todos eles. É foda. Muito foda.

Fiquei muito feliz de poder compartilhar alguns minutinhos conversando com eles. É bem interessante. Não é um exemplo de diálogo gramaticalmente correto e formal. É apenas a demonstração de como somos, brasileiros, humanos, com sonhos e diferentes perspectivas da vida.
Muitos podem ser felizes com muito pouco, e nem sabemos.

Ficamos preocupados com pouca bosta no final das contas. Somos egoístas o tempo todo.
Sou grata a meus pais, embora alienígenas, das possibilidades que tive de poder estudar e ser quem eu sou. Com dificuldades, é claro, mas não posso reclamar de nada.
Acho que, como o ato de escrever, que pra mim é algo muito importante, essa atenção que podemos dar para o outro ser humano ao seu lado, é algo tão valioso quanto.

Foi bom.


Enfim, meu amor estava fazendo um curso lá perto, e pude vê-lo após minha aula e a conversa com o pessoal lá do CIEE. Fomos embora num ônibus desnecessariamente lotado. Insuportável. Ficamos como sardinhas enlatadas e prensadas, derretendo naquele forno, sauna de pobre a R$ 1,70, sem eucalipto. E o desodorante insistentemente vencido, dando o ar da graça ao levantar o braço pra se segurar no trajeto. Imóvel. A mão suava e eu escorregava, tombava e o JP, coitado, me segurava. Me irritei e mandei o cidadão sentado no banco da frente segurar meu caderno e o livro que tinha na mão. Tem gente que não se mobiliza, mesmo com o óbvio estapeando sua fronte.

Enfim, chegamos na Paulista, onde meu amado e eu fomos no Stand Center fazer um tour pelo bem da nação.
Meu amor me deixou na faculdade e depois foi embora. Mesmo eu tendo insistido pra que ele ficasse quietinho na minha bolsa, mas ele não quis... Hahaha!
Poxa, eu amo esse garoto! =o* Ele é lindo, fofo, inteligente, perfeito. E meu, o que é melhor.

Voltando da faculdade, indignada por ter pago uma multa de 3 reais por um dia de atraso na devolução de um livro na biblioteca (eles contam o domingo como um dia a mais, mesmo não trabalhando neste dia e não sendo dia útil, o que é ridículo), fedendo como o Pepe Le Pew, o gambá do desenho animado, ávida por uma coca-cola gelada e com fome, me surpreendi com uma coca na geladeira e passatempo recheado (embora não deva comer essas porcarias), providenciada milagrosamente pelo meu pai, o que é um fato que merece comemoração. Foda! Isso foi muito legal.
Enfim, estava tão desanimada achando que não teria nada além de água e pão integral com catupiri vencido pra comer que, ao encontrar isso em casa, foi uma surpresa e tanto. Hahaha!
Comi e vim blogar. E acho que me empolgay. Oui, madam!

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