sexta-feira, novembro 22, 2002

Final de ano é sempre a mesma coisa...

Chega novembro e já vemos as ruas sendo atoladas de luzinhas chinesas de R$ 1,99 em todas as árvores e arbustos disponíveis. E a tal economia de energia elétrica para de fazer sentido. Ou será que o racionamento serviu só pra economizar o suficiente pra esbanjar agora, pra poderem "enfeitar" as ruas com tais artefatos?
As crianças ficam eufóricas, esperando que o papai Noel as recompense por mais um ano de estudos forçados. Por mais que continuem analfabetas, espanquem seus coleguinhas ou não mereçam porra nenhuma. Mas ficam lá, na certeza de ganhar seus presentes, mais um novo brinquedo pra coleção. As mais boazinhas e graciosas ganharão meias de suas avós. Decepção total.
Há também as que não terão nada disso, pois vivem em algum barraco com mãe prostituta e pai alcóolatra, e receberão no máximo uma nova vassourada na cabeça.

Mas no Brasil, tudo é lindo, tudo acaba em pizza e fim de ano é festa. Festa em comemoração a mais um ano de inflação alta, mais um ano de desemprego. Vamos comemorar o novo fio dental comprado na C&A para a ceia do Natal. E o peru mais uma vez vai ser o alvo das disputas em família. Ou acham que o Natal é tempo de confraternização, reunir os simpáticos familiares e blábláblá? Nem fodendo! Natal é tempo de reaver parentes detestáveis, tempo de exercitar o talento teatral e fingir ser mais do que se é, fingir ser melhor que o parente, fingir ser simpático e agradável. Claro que não passa de fingimento. Nem sempre, é verdade.

Há os que não tem ao menos familiares para fingir alguma coisa do tipo. Contentam-se em comer alguma coisa na solidão do lar e beber o amargo whisky para esquecer a acidez e o silêncio inquietante da solidão imposta pelo destino. Talvez o bicho de estimação seja a melhor companhia mesmo.
E a ode ao consumismo, o endividamento até as calças está em todas as partes.
O filho que pede o novo vídeo-game, a bicicleta da menininha mimada. E o menino pobre ganhando um caminhãozinho de plástico doado por alguma instituição de caridade, que terá muito mais valor que todo o luxo à disposição da classe média alta.

Famílias inteiras movem-se em direção ao litoral. A farofada reina e as areias possuem mais detritos e lixo que grãos de areia limpos. Mas tudo é lindo, tudo é festa. E se a caipirinha não cair bem com aquela feijoada gordurosa, não há problemas! O sol brilha lá fora e o croquete doura na frigideira. O turista acidental logo irá ter uma insolação dos diabos e passará o resto do mês parecendo um pimentão descascando. Bolhas, frieiras, micoses, bicho geográfico, infecção intestinal. Nada poderia ser mais legal.
Afinal, fim de ano é festa, são as férias da criançada. É hora de rever aquela tia mala sem alça que insiste em colocar seus 150 quilos de pura margarina no maiô florido.

Os shoppings centers lotam nas vésperas de Natal. E as "lembrancinhas" pesarão no bolso na hora de pagar no ano que vem. Mas no problem! Há sempre um interesse maior por trás de tudo isso. E o AB-Shaper era o sonho de consumo que finalmente foi realizado! Ficará estacionado no canto do armário em poucos meses, mas pelo menos você tem tal modernidade ao seu dispor.

O Natal é lindo! As árvores são cortadas para serem enfiadas dentro de apartamentos. Em um mês estará no lixo, mas quem se importa?
No calor infernal de 35º do nosso verão, palhaços se vestem de Papai Noel, personagem típico do folclore braZileño, junto com o Boi-bumbá e o Saci Pererê. Dizem que Papai Noel é um ser legendário, que assusta criancinhas na Amazônia, onde vive o boto cor-de-rosa. Tudo alí, perto de Buenos Aires, onde os mexicanos pulam a fronteira.

Por outro lado, suicidas fazem a festa na noite de reveillon. Pra que extender o sofrimento até o ano que vem? Os bombeiros, médicos e para-médicos devem adorar fazer plantão nesses dias...
E tudo porque faltou alguém ao seu lado, que pudesse lhe fazer sorrir e achar toda aquela palhaçada fazer sentido uma vez na vida. Os fogos pentelham e os gatos se escondem dentro do armário assustados, de onde só sairão no próximo ano. Cachorros latem e tremem debaixo das camas em pânico achando que o mundo está terminando. E a sacanagem rola solta, porque tudo acaba em sexo, coma alcóolico e o resto da ceia no almoço do dia seguinte.

Eu prefiro ficar pescando na internet, porque acho mais são e realista do que ficar perdendo meu tempo com tais idiotices.
Não temos o que comemorar. Sejamos realistas.
Tá, nem tudo é merda na vida, mas nem tudo é flores, e eu não sou a Barbie Summer Days.
Prepare seu coração e bote o champanhe no gelo.
Amém.

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