domingo, fevereiro 09, 2003

Hoje estava tudo indo muito bem, mas meu pai sempre faz comentários dispensáveis. Ele adora jogar na minha cara frases como "você arruina minhas finanças", aos berros. Ele, além de não ter a menor educação, faz questão de empurrar a culpa de suas derrotas para mim. Está claro que ele é um fracasso, só ele não percebe (ou simplesmente se recusa a aceitar a realidade).

Sabemos que, os frutos que iremos colher no futuro (ou que já estamos colhendo), são resultado do que estamos cultivando agora (ou já cultivamos). Se ele plantou vento, está colhendo peidos. Mas ele é o único responsável por isso. E não assume! Ele se recusa a aceitar. Fica mais fácil jogar a culpa pro mais próximo (eu). Acho que isso deve "aliviar" a consciência dele, mesmo que apenas momentaneamente. Frustrado, diz que eu sou responsável por isso, que eu tomei anos da vida dele, que eu arruinei com as finanças dele, que eu isso, que eu aquilo, que vive sem tempo.

Porém, não é bem assim.
Ele passa o dia todo deitado olhando pro teto. Como pode alegar não ter tempo?
Ele estudou, se formou, teve oportunidade de progredir na carreira. Preferiu se estagnar trabalhando pro Estado, a um salário mísero. Nunca buscou se aperfeiçoar, ou fazer cursos, embora pudesse ter feito (e ele faria, se quisesse). Não sabe inglês, não sabe informática. Não sabe nada.
Ele teve dinheiro pra cuidar do lugar onde mora, e que precisa de reformas emergenciais. Preferiu perder tudo com investimentos ridículos. Nada de concreto foi feito.
Ele gosta de reclamar. Mas não ajuda a melhorar (pelo contrário, só atrapalha).

Eu fico muito chateada com isso, realmente.
Sei que, já deveria ter me acostumado, afinal, ele sempre foi assim (só está piorando), mas não consigo.
Não me acostumo com as grosserias, com as palavras ríspidas.
Ele faz com que eu me sinta indesejável.

Sempre me senti uma filha indesejável, inconveniente, como um peso desnecessário que eles são obrigados a carregar, de ser a filha que não sonharam. Mas quem mandou ele pensar com a porcaria do pau? Fez merda. Mas apesar de ter me assumido legalmente (após 18 anos), de ter me sustentado por todos estes anos, ter me alimentado e dado umas esmolas, não confio 1% sequer no meu pai.
Não posso confiar em quem faz falsas promessas (nas quais acreditei por tantos anos, mesmo sabendo que resultariam em decepção), em quem consegue, com 2 palavras, fazer com que eu me sinta um impecilho da vida alheia, desnecessária e maldita.
Mesmo assim, sou obrigada a gostar dele.

Quando ele é grosso comigo, sempre penso em suicídio, em ir morar na rua. Porque acabam sendo opções tão amargas e dolorosas quanto continuar aqui ouvindo tais palavras "carinhosas". Claro que, ele nem sempre é assim.
Mas basta ser assim uma vez, pra que todo o resto vá por água abaixo.

Meu pai não tem feito nada além de comprar comida (mal escolhida), há anos, e me dar dinheiro pro ônibus ou metrô, de vez em quando.
Ou despesas com drogaria, com remédios, absorventes, essas coisas.
Como posso ter "arruinado" as finanças?
A verdade é que, ele não sabe administrar os próprios gastos. E o dinheiro porco dele, escorre pelas mãos frouxas, como água. A irresponsabilidade é dele, mas a culpa é minha. Não posso aceitar isso. Não é justo e não estou afim de aguentar mais desaforos.

Nenhum comentário: