quarta-feira, março 05, 2003

Cansei de reclamar, embora a vida aqui seja propícia a isso, já que, certas coisas tendem sempre a piorar.
Mas não quero me lamuriar novamente e me abalar pela pobreza de espírito alheia. Cansei de ser a reclamona. Vou buscar as coisas boas de cada situação. Sempre deve haver algo bom em tudo isso. Até chorar deve ter seu lado bom.
Já que não posso dizer que fiz compras incríveis, que tenho um carro novo, perdi 10 quilos e sou linda e podre de rica, tenho que me contentar com o pouco que me resta, com o suvaco peludo mesmo, os trocadinhos do ônibus de amanhã, a camiseta reciclada na base da tesoura na hora da emergência, o miojo quase vencido matando a fome, o último comprimido da cartela.

Não tenho uma vida fácil, uma vida de caprichos e laços cor de rosa como muitas garotas blogueiras que vemos por aí. Acho que estou mais próxima da realidade da maioria das pessoas que essas garotinhas cheias de mimos. Porque eu não saio a fazer compras com a mesadinha do papai, com o poodle na coleira. Nunca tive mesada. Minha vida sempre foi de extremos, de pequenos dramas cotidianos, dívidas, cachaça barata, instintos primatas, lágrimas e Neutrox.
Sou tão real quanto a inflação que fode o bolso do brasileiro. Eu peido, e até cago na calça se a diarréia for braba.
Já fui citada como (mau) exemplo a ser seguido, com um certo ar de admiração talvez, mas nada mais sou que um rélis mortal, uma pessoa comum, que bebe coca e arrota como um troglodita, arranca a remela dos olhos pela manhã e assume isso. Acho que o que me faz diferente, é apenas o fato de assumir que sou humana, comum, que sou tão sensível quanto qualquer um. Apenas o fato de não ocultar o que normalmente as pessoas escondem. Me chamam de corajosa até. Não acho que sou.
Se eu fosse corajosa, talvez já tivesse resolvido metade dos meus problemas atuais. Meus problemas se resolveriam todos com dinheiro. E dinheiro, é o que menos possuo.

Fico feliz quando lembram-se de mim, quando penso em meus amigos, quando me sinto parte importante de alguma coisa qualquer.
Acho que todos são especiais de alguma forma, mas muitos se tornam apenas caricaturas, figurinhas repetidas com o passar do tempo. As pessoas anulam seus talentos, desperdiçam seu potencial. Muitas nem o descobriram ainda e já o aniquilam logo cedo. O que fazer para não nos tornarmos mais um nada no mundo, se o mundo conspira para que isso aconteça? Nada posso fazer? Ou posso fazer muito. Será? Por que não tentar?
Me sinto idiota escrevendo isso. As pessoas desperdiçam talentos.
As pessoas desperdiçam suas próprias vidas sendo meras pecinhas desse quebra-cabeça sem nexo. Talvez, se eu fosse um alface, seria mais útil ao mundo.
Será que conseguirei fazer parte de alguma coisa essencial? Será que poderei ser lembrada com admiração quando não mais existir? Gostaria de poder ser uma peça-chave neste jogo. Me sentirei mal se não conseguir. As vibrações que me cercam aqui, apenas servem para me manter distante dos meus sonhos. Que sonhos, não é mesmo? Desde quando os escravos da sociedade patriarcal, hipócrita e suja podem sonhar? Foda-se o mundo. Limpem suas bundas engomadas com seus diplomas. Mordam seus sapatos engraxados.

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