quarta-feira, julho 02, 2003

Pensamentos mofados no vapor do banheiro.

Após cagar lendo o "Sobre ética e imprensa", do Eugênio Bucci, fui tomar banho e, como sempre, fico pensando exaustivamente sobre essas coisas... Geralmente não pensamos sobre isso, mas basta olhar ao nosso redor para constatar que tudo não passa de cabresto em nossas cabeças servis.
Coisas que fiquei pensando ontem no chuveiro:

A indústria do entretenimento praticamente domina a cultura atual de nossa pútrida sociedade e, a informação hoje é vendida embalada atraentemente para agradar o "consumidor", e não mais o "público", como era chamado antes dessa era da massificação da informação e da cultura de massa, onde o público é visto como mero consumidor em potencial, sendo que, a informação que antes era um direito do público agora é vendido como parte do entretenimento cuspido em nossas caras de palhaços acríticos.
A mídia hoje e a informação que dela provêm já não possuem o discernimento crítico para julgar o que é relevante ou não, ou o que é realmente uma informação precisa e de cunho "verdadeiro". O consumidor, mais acrítico ainda, apenas aceita tais informações destes portadores da suposta verdade dos fatos como algo indiscutível ou pouco reflexível. As indústrias simplesmente cagam o formato com que as novidades podem ser exibidas ao público e, obviamente, o formato é apológico aos showzinhos de cores deslumbrantes e visual apelativo. Tudo é produto de consumo. Tudo interessa vender. E a imagem que vendem, praticamente de todos os gêneros informativos, provém da visão do entretenimento, tão almejado pelas pessoas.
O entretenimento, por sua vez, cabe trazer alegria ao público, entreter, divertir, servir como um passatempo, informativo ou não.

E essa busca pelo entretenimento, bela beleza alegre das imagens e pela felicidade, vendida tanto nas propagandas de margarina como nas novelas, como até mesmo no noticiário, que se tornou apenas parte deste entretenimento, é a realidade do consumo atual.
Se você pode vender alegria, entreter as pessoas de algum modo, dando-lhes a falsa idéia de que o consumo pode apaziguar tais desejos inconscientes, pode manipular as massas.
E, já que enfiam-nos na cabeça que a felicidade é nossa meta indiscutível em nossa vil existência, não há espaço para o feio, para a dor, o sofrimento. Quando tais imagens são exibidas, causam o impacto como se tais fatores não fizessem parte também de nossa realidade estúpida.

Imagino que tal realidade, de massificação do entretenimento no cotidiano, do plano de saúde vendendo imagens assépticas e bonitas ao noticiário apoteótico repetindo as novidades laboratoriais que convém ao lucro das mesmas, esteja cada vez mais distante do ideal de nossos direitos à verdade transparente do que nos diz respeito como cidadão bem informado e crítico (cada vez mais raro) e, suponho que este quadro seja irreversível.

E, talvez estas vulgo infelizes criaturas em busca pela felicidade comprável pelo entretenimento, talvez um dia, olhem para trás, em sua nova realidade social, e percebam o quanto éramos felizes e não sabíamos.

Ou talvez não. Só o pensamento crítico e a educação específica em diversas áreas, o estudo contínuo e ininterrupto, as cutucadas na mentalidade dessa plebe inerte pode modificar isso. Mas é utópico e ingênuo da minha parte pensar tudo isso.
Principalmente para os profissionais recém formados e estagiários das carreiras de comunicação social, se submeter a isso e compactuar com o showzinho superficial da informação colorida será crucial para manter-se num emprego e obter razoável sucesso na profissão escolhida, até que possa usar de opinião própria sem ser rechaçado. Que adianta meia dúzia pensarem diferente e quererem tolamente mudar o universo (que eu dominarei em breve) se, tudo isto já está enraizado profundamente na vida das pessoas?

E por isso eu digo: foda-se.

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