quinta-feira, março 06, 2003

Lendo o comentário do meu post anterior, estava pensando como é bom ler, e no quanto as pessoas se distanciam das coisas importantes e verdadeiramente boas, só pelo fato de serem atraídas pelo que é mais fácil, mais cômodo. A preguiça mental domina a geração atual, hipnotizada pela televisão e sua programação podre. É muito mais cômodo ficar idiotizado em frente à televisão olhando bundas se mexendo a usar o cérebro para refletir sobre alguma coisa, estimular a imaginação, a criatividade. A leitura não é mais uma boa companhia, como já foi num passado distante. Já se foi a época em que as pessoas tinham suas bibliotecas pessoais.
Não adianta citar fenômenos como "Harry Potter" como sinônimo de estímulo saudável à leitura, se a leitura que hoje é oferecida não tem a menor qualidade. O que são essas porcarias que enfiam na goela das crianças hoje? Lewis Carrol nunca é citado às novas gerações. Pokémons são mais legais, não é mesmo?

Estou lendo "Contos e Poemas para crianças extremamente inteligentes de todas as idades", coletânea do crítico litarário Harold Bloom, com os mais bonitos contos e poemas da literatura universal, como Carrol, Shakespeare, Rudyard Kipling, etc. São obras maravilhosas, muitas das quais nem conhecia, e que, em breve serão totalmente esquecidas, se continuarmos a cultuar o que não presta, como agora. O que dizer sobre nossa geração, que no máximo ouviu sobre "Chapeuzinho vermelho" na infância, e mal aproveitou a literatura de Monteiro Lobato, tão acessível, só pra exemplificar?!
É realmente uma lástima.

Lembro que, quando era criança, ficava muito feliz ao ganhar livros de presente. Mas ganhei pouquíssimos livros (isso acontece quando insistem na idéia de nos dar meias e pijamas no Natal, aniversário e dia das crianças). A literatura obrigatória escolar não conta. "O mistério do cinco estrelas", lido por 10 entre 10 crianças da minha geração, era até estimulante, mas normalmente paramos por aí. Por que os pais não estimulam a leitura? É justamente o que o Harold Bloom cita na introdução deste livro de coletâneas, sobre a falta de estímulo à criança ao fascínio da viagem que a leitura proporciona. A imaginação já não é mais importante, como outrora. Se não mudarmos esta realidade, teremos, num futuro breve, apenas adultos sem criatividade, sem talento para inventar, imaginar, criar, sonhar. O que vale agora, é apenas competir, cada vez mais, é ingerir a informação manipulada, já mastigada, e apenas digerí-la, seja ela verdadeira ou não. Não interessa mais se os livros podem enriquecer culturalmente. O cinema é mais atraente, colorido.

É triste.
Eu mesma, cheguei a um ponto, percebendo a falta que a literatura estava me fazendo. Minha infância foi de pouca leitura, apesar de viver em bibliotecas. Eu era uma criança tímida, de poucos amigos. Acho que isso me influenciou bastante no gosto pela leitura, já que, a biblioteca servia como um abrigo nas horas ociosas do recreio.
Todas as bibliotecárias que cruzaram meu caminho foram muito queridas, sem excessão.

Meus pais não me incentivavam a ler. Eu ficava triste por ler os mesmos livros pela trilionésima vez consecutiva e não ter outra opção depois. Não era atraente pra mim ler "O homem que calculava" de Malba Tahan. Mas eu teria adorado o "Menino do dedo verde", descoberto anos e anos mais tarde, perdido em alguma estante entre os livros do meu pai. O livro sempre esteve lá. Mas faltava a iniciativa do meu pai em me apresentar àquelas histórias maravilhosas. Descobri vários livros antiguíssimos do Monteiro Lobato, alguns livros que fizeram parte da juventude do meu pai. Mas que nem ao menos foram abertos. Fico triste. Essas histórias são estrelas no céu de quem lê; ajudam a sonhar, a descobrir novos universos.

Eu fico muito puta da vida com quem priva a leitura dessas crianças. É tão importante quanto se alimentar, como beber água e fazer xixi. Não interessa se o novo videogame atrai mais. Eu também gosto, não nego. Mas nem por isso pode-se fazer com que uma criança deixe de pensar, de ler e raciocinar. É claro que a leitura torna-se insuportável ao ler Eça de Queiroz, mas é tudo uma questão de adaptação ao gosto do leitor. Há quem goste de Machado de Assis, além do "Alienista" e da parte focada ao vestibular. Nem todo clássico é chato, assim como nem todo clássico é um clássico para mim. Há muita coisa boa, é questão de ter interesse apenas.

De um ano pra cá, comecei a desejar mais ainda ler todos aqueles livros que namorava por tanto tempo nas livarias.
Depois de "O mundo de Sofia", tudo ficou mais chato, é verdade. Mas não desisti. Desde que comecei a namorar o JP, passei a ler mais também. Qualquer dinheirinho que entra no meu bolso furado, acaba virando um livro. E o bom, é que poderá ser sempre lido.
Comece pelas crônicas, depois você vai evoluindo pra alguma coisa mais clássica. É muito bom. Recomendo.
E nem venham com desculpas esfarrapadas que livro é caro. Só não lê quem não quer.

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