terça-feira, maio 31, 2005

Fabiana e o templo do consumismo.



Fazia bastante tempo que eu não saia com o meu pai. Ontem fomos no shopping, porque ele queria dar uma volta, e achei que não seria nada mal. Aproveitei pra recarregar os créditos do meu celular e comprar uma caneta de plástico carésima da Hello Kitty na Sanrio store, ambos presentes de babai.

Eu não precisava de nada disso, claro. Ainda mais depois de um dia com direito a compulsões diversas, especialmente no quesito Hello Kitty.
Sim, porque eu saí de tarde pra manipular um creme na farmácia e na volta comprei uma bolsinha da Hello Kitty, um chaveiro e uma HK de pelúcia, além de uma cartela de adesivos do ursinho Pó. O que deu em mim? Juro que não sei.
É aquela coisa, de saber exatamente que tais artefatos exercem um poder sedutor sobre nós, garotas meninas do sexo feminino, que podemos evitar isso e mesmo assim, não resistir sem fazer nenhum esforço para isso, com um misto de culpa e "dane-se" convivendo no mesmo espaço. Isso só prova o quão irresponsável eu sou, bestinha mesmo, mas mesmo assim, gostei de fazer isso. Costumava fazer isso pelo prazer da compra, como sinto prazer em ir ao supermercado e botar no carrinho milhões de coisas de embalagens bonitas e novidades que parecem interessantes, coisas que eu supostamente preciso. Mas dessa vez nem foi tanto. Quando faço isso sabendo que não devo, acho que o prazer de comprar não faz muito sentido, sei lá. Comprei porque acho fofo mesmo, e a bolsa é uma gracinha, mas o resto não precisava. Podia ficar só com a bolsa, ora essa. Já tinha um chaveiro de fusca, pra que um de Hello Kitty? Tá bom, pela HK, é verdade. HKitties são charmosas e sedutoras. Tá legal.

Bem, na volta fiquei pensando nisso. Mas há algumas semanas também estive pensando nisso. E é algo em que penso hora ou outra. O templo do consumismo, o shopping center, as aparências todas, as barbies de botique que compram naquelas lojas todas e escovam seus falsos cabelos loiros espichados na chapinha e essa mania das garotas em seguirem estereótipos assim e tentarem de um modo ou de outro chegar cada vez mais perto dessa imagem. Não que eu algum dia tenha feito isso, porque pra mim sempre pareceu impossível nessa encarnação. Minha auto-imagem e auto-estima sempre foram desengonçadas. E tudo é tão igual, tão ilusório, tão sei lá. E sempre me sinto mal vestida quando estou nesse tipo de ambiente. Me sinto mais gorda do que realmente estou (mas estou mesmo gorda), mais feia e deplorável e mesmo assim, fico tentando achar algo de bom na roupa e recriminando a escolha dos sapatos enquanto piso naquele piso de mármore frio do centro das compras. E, passado o mal estar, depois penso em como isso tudo é idiota. Idiota com todo o peso da palavra. Idiotíssimo. Eu não preciso de nada daquilo, tampouco em ser como os outros, ou viver como vivem essas pessoas que consomem o que eu não posso consumir. E eu não posso e nem preciso e, embora queira poder, depois percebo que não quero.

Eu não faço mesmo sentido, sou confusa e é isso.

Me sinto inútil, mais que nunca; JP sempre me recrimina pelas coisas que faço e também pelas que não faço. Tirando as pessoas que comentam no blog, minhas amigas e algum gato pingado que não sei quem é, faz muito tempo que não escuto um elogio e alguma coisa otimista e isso é uma coisa que acho que sempre vai mexer conosco de algum modo. Porque todo mundo quer ser agradável aos olhos dos outros além de si mesmo, e não sou tão diferente, embora eu me descuide e me enfeie e me subestime. Se autodestruir se tornou meio que automático, força do hábito, acho eu. Mas preciso mudar isso em mim. Mudar muitas coisas em mim. Minha cabeça anda meio doentia, fico pensando muita bobagem, não consigo mais ser coerente como imaginava ser e percebo que nunca de fato o fui.

Hoje fui ao meu endocrinologista, que tem cara de bravo, mas é só a cara mesmo, e ele sempre diz que eu sou inteligente, mas deveria usar isso ao meu favor. Só que eu me boicoto e não me acho inteligente, e o que eu posso fazer se a pessoa que mais devia me amar e acreditar em mim, e que sou eu, não faz isso de verdade? Eu fico o tempo todo me recriminando, me sabotando e não adianta choramingar por isso, Fabiana.

Sou meio idiota mesmo, só pode ser. Mas tá vendo? Já não devia estar falando mal de mim assim como estou. Eu devia dizer que sou foda, sou capaz, sou imbatível, mas essa vida de cagona me viciou e tornou-se cômoda. Devia estar indo no psiquiatra também, mas não volto lá desde dezembro, pra botar em prática o plano de auto-sabotagem que tanto gosto. E aí uso o velho argumento de que o blog é uma boa terapia e fico aqui chafurdando nesses pensamentos disconexos enquanto digito freneticamente. Não sei como nunca tive tendinite por causa desse blog.

Voltando ao assunto que fui ao médico hoje, encontrei a Luciane saindo do Dr. Waldeney, e depois dela fui eu me consultar com ele. Ele é um médico ótimo, gosto muito dele. Bom, mas matei as saudades da minha amiga, e depois fui pra casa com a bolsa cheia de pomadas de uso vaginal. Odeio usar pomadas desse tipo. Mas quem gosta? Outra infecção bacteriana pra coleção, que vou tratar essa semana mesmo.

Eu não estou indo mais na Puc, e me sinto tão estúpida com isso que parece que só estou criando mais problemas pra mim, mas estou nesse dilema de continuar e ver minha dívida aumentar, e saber que não posso e não tenho como e nem pretendo pagá-la, ou sair e voltar à estaca zero e tentar novamente um vestibular pra uma faculdade gratuita sem ter feito cursinho este ano, e sequer se lembrar das aulas de matemática que tive ano passado no Etapa. Eu me desespero seja qual for o lado pra qual eu viro.

Eu queria ter pais que me apoiassem e me ajudassem, e sempre penso como minha vida poderia ser mais sólida hoje se eu tivesse tido pais melhores e não esses desajustados que só me recriminam e me chamam de irresponsável, gorda e vagabunda. Acho que o lado ruim das nossas vidas são os que preferimos guardar, inconscientemente. E tô cheia disso, porque isso só empata mais ainda minha vida, que já não é fácil. Acho que de tanto pessimismo e negativismo na minha vida, eu acabei ficando assim, covarde, meio "patsa" (como se escreve isso?). Fiquei nessa merda de não fazer nada porque acho que não consigo fazer sozinha, mas sei que posso, embora obviamente seja mais difícil sem apoio e sem colaboração. Mas tenho que fazer afinal, se quiser sair dessa merda e é óbvio que eu quero. Só que fico aqui chorando em cima do teclado, que também está decadente, com o A e o S sumindo de tanto digitar.

Eu estou chateada porque quero mudar minha vida e não mudo. Chateada comigo porque me apego a essa história de que a culpa é dos outros e não minha. E também porque eu me esbofeteio demais psicologicamente, ao invés de me amar como deveria. E isso só me faz crer que eu não tenho nada de saudável em mim, e devo tratar isso como a minha infecção das vias de fato, com pomadas nojentas e paciência.

E, embora bunda-mole, sou imediatista e impulsiva, o que dificulta mais ainda as coisas, porque sei que não dá pra fazer isso "pra ontem", como eu gostaria, ainda mais continuando aqui digitando sentada feito uma cabrita. E aí penso na minha bunda gorda, e que isso também não está certo, estar gorda desse jeito, comendo porcarias e sem fazer nenhum esporte. E aí eu lembro que queria fazer um monte de coisas mas não posso porque não tenho dinheiro pra pagar, e volto ao pensamento de onde comecei, das falsas necessidades que criamos por causa do nosso olho deslumbrado que acha tudo que reluz bonito e aí "eu quero" se torna muito constante. E por aí vai.

E, pra finalizar, não cheguei a lugar nenhum.
Que bonito.

Um comentário:

Anônimo disse...

o.o' é o gato pingado de novo. E se queres alguém que te entenda, minha filha, acredite =0D, estamos no mesmo barco. A única diferença é que eu ainda não estou na faculdade, mas de resto... =0P Parece que as coisas não acontecem realmente... É como se tivéssemos parado, esperando que o.o algo nos jogue de novo i.i no rumo certo. Às vezes, me sinto tão inútil... Acho que uma árvore acaba fazendo mais coisas que eu... -.-' É, sei lá... Vai saber. É isso. Fui.